sexta-feira, 8 de maio de 2009

Miscigenação

Hoje, na faculdade, coisas simples como conversas e sorrisos me fizeram lembrar o saudoso tempo de escola. Tempo em que ser feliz é o que importa, em que amizades eternas são traçadas e em que se consegue perceber a beleza nas coisas simples da vida. Beleza essa que deixa de ser apreciada conforme agente cresce e o tal do tempo se vai...
O engraçado é perceber que por mais que não tenhamos mais aquela visão pura de criança sobre a vida, conseguimos preservar muito daquilo que nos foi imposto como fato absoluto quando éramos pequenos.

Como exemplo disso lembrei de uma coisa que li num livro de "estudos sociais" lá nos primórdios do primário! O assunto da aula era a variação de culturas e raças que há nesse Brasilzão de meu Deus e havia um quadrinho no livro que falava sobre os frutos das misturas de raças. Esse quadrinho dizia exatamente assim:

BRANCO + NEGRO = MULATO
NEGRO + ÍNDIO = CAFUSO
ÍNDIO + BRANCO = CABLOCO

Passaram-se anos desde que li isso e tal informação se disseminou de tal maneira sobre mim que até hoje tenho isso como verdade absoluta na minha vida. Em algumas discussões étinicas me pego afirmando sobre tais miscigenações simplesmente porque em algum momento da infância li aquilo num certo livro e tal observação me foi imputada de tal modo que se tornou uma forma de julgo sobre qualquer pessoa que use um diferente termo para definir tais misturas.
Quando me dizem:" Ei Gabi, vc é morena! " Eu digo: " Sim, posso ter a cor morena, mas eu sou é mulata. Porque meu pai é branco e minha mãe é negra"
E por aí vai..., se dizem " Fulano é um mulato bonito", eu digo " Vc não pode afirmar. Sabe-se lá se ele é filho de branco com negro..."

O fato é :sou mulata, sim. Porque dona Cristina é negra e seu Guilherme é branco.Sou mulata e ponto final! Sou mulata porque li isso na infância e se li, é verdade! rs.

Obviamente, entendo as vertentes da minha miscigenação que surgem de acordo com a minha aparência. Quando estou na casa da minha família por parte de mãe, onde todos são negros, eu sou a sem cor, a amarela, a branca demais. No entanto quando estou com meus familiares paternos, sou a de cor, a moreníssima, a mulatona.
Discordo um pouco do termo " de cor" pois ele é incapaz de definir um grupo específico, já que todos nós, seres humanos, somos de cor. Seja ela branca, negra, amarela ou azul.
Entretanto, é divertido perceber as diferentes classificações recebidas baseado na diferença do ambiente em que se está inserido. Certa vez, minha amiga Mariana me definiu como "MINHA AMIGA PRETA SANSEI". Adorei a criação(rs)! Gostei tanto que ao escrever qualquer coisa pra ela assino como a tal da amiga preta sansei. Tudo isso por que? Para entender o apelido carinhoso, é necessário que se analise o contexto:a Mári é branca. E sendo comparada a cor dela, sou difinitivamente preta. Além disso, tem a questão dos meus olhos . Esses olhinhos meio puxados. Olhinhos que herdei do meu pai, mas que fazem parte de um grupo de características que me diferenciam dos demais. Que me tornam uma mulata diferente, ou uma preta diferente. Uma preta assim...meio "sansei"...


Analisando tudo isso, acho íncrivel perceber como essas nossas " verdades absolutas" surgem quando não esperamos e se apoderam de nós de uma forma que nos torna inflexíveis a qualquer outra variação da definição em questão. Para mim, essa é a verdade absoluta sobre minha raça e por mais que tracem toda a genealogia da minha família e me mostrem os negros, italianos e portugueses que existiram pra que hoje eu estivesse aqui, a minha definição étinica se baseia num simples fato: Sou filha da minha mãe e do meu pai. E se um é branco e a outra negra...não importa do que me chamem e as denominações que possam surgir com o tempo, nasci mulata e morrerei assim, exatamente como aquela tal música que me define...
" eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim,Gabriela..
Sempre Gabriela..."

7 comentários:

  1. criatividade e singularidade apenas de Gabriela

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  2. - Ei Gabi, vc é morena! " Eu digo: " Sim, posso ter a cor morena, mas eu sou é mulata. Porque meu pai é branco e minha mãe é negra"
    E por aí vai..., se dizem " Fulano é um mulato bonito", eu digo " Vc não pode afirmar. Sabe-se lá se ele é filho de branco com negro..." -

    Quem te conhece sabe...

    E é fato:
    "(...) todos nós, seres humanos, somos de cor. Seja ela branca, negra, amarela ou azul."

    Bom texto, Gueibi.
    Muito "você", como sempre. E nem poderia ser de outra maneira...

    Um beijo.
    TATÁ

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  3. Amiga, vc é mulata da Portela :) ARRASA NÉM! hahahaha, e eu sou branca, olha meu nariz e meu cabelo, hahaha! Troca pra jornalismo Gabi, sucesso total!Beijos minha parte mais calma!

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  4. own !!!!! meu nome foi mencionadooooo !!! LINDAAAAAAAAAAAAAAA !!! Mas é amiga, vc é minha AMIGA PRETA SANSEI e ngm tira isso de mim !!! hauhauah amo vc sendo preta, branca, sansei, ninsei, nao sei, talvez, amarela hauahauhauahauha
    eu amo a GABRIELA e que bom que vc nasceu assim, cresceu assim e vai morrer assim...sendo sempre minha GABRIELA !!!

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  5. Li o seu post ao som de Vanessa da matta - Eu sou neguinha, rsrsrsrs.
    Ficou mt bom o texto, gosto mt dessa vibe no preconceito yes diferentes formas de pensar...

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  6. É Gabi,

    Vc sempre com excelentes textos! Me tirando do relatório final de atividades para ler que vc sempre será Gabriela!

    Pois é... ser Gabi é ser assim, SEMPRE assim!

    Adorei o texto! Principalmente a parte da referência a estudos sociais... sofri muito, pq eu odiavaaa!!!

    Te amo!

    Bjão...

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