sexta-feira, 19 de junho de 2009

Uma morte perfumada


Assim como no post anterior, gostaria de esclarecer um detalhe. Embora o tema de hoje seja a a morte,minha abordagem sobre o assunto será diferente do que se imagina. Deixo claro que aqui a morte não será analisada espiritualmente, ou seja, não pretendo discutir se o que vem a seguir é céu, inferno, purgatório ou outra vida.Isso porque quem me conhece sabe que minha crença se baseia no fato de que se nos arrependemos de nossos pecados e aceitamos Jesus, vamos pro céu. E se não, vamos pro inferno. Simples assim. Sem meias palavras, sem purgatório, sem recompensas por boas ações. Sendo assim, flertarei com esse assunto de um outro ângulo. Sobre a morte sim. Mas sobre o efeito dela para quem fica. Porque fatos sobre o que acontece com quem vai... ficarão para um breve oportunidade.


Desde o princípio da existência, a morte ocupa o topo da lista dos assuntos mais misteriosos sobre a face da Terra.
E creio eu que assim será por um bom tempo.
Mas o que m
exe mesmo comigo é a maneira como nós, que ficamos, encaramos essa questão. Como costuma dizer a minha avó:" Pra morrer basta estar vivo”. E sendo essa uma realidade tão óbvia por que até hoje encontramos tamanha dificuldade com tal fato?

Vejam bem! Não me refiro,
de maneira alguma, à tristeza por saudades de quem se foi. Isso é totalmente compreensível! O fato é que por mais que essa palavrinha de cinco letras se faça constante em nossas vidas, ela continua tendo forças pra nos deixar tão desconfortáveis de tal modo que não saibamos nem mesmo como nos portar em determinadas ocasiões.


Um velório, por exemplo

Não podemos conversar normalmente porque é falta de respeito. Não podemos rir porque é MUITA falta de respeito. Além do mais, é como se o riso no rosto de alguém fosse uma afronta a tristeza dos familiares do morto ja que qualquer menção de alegria se torna terrivelmente cruel onde há tanto pranto.Não podemos, se quer, falar dos tempos de vida do defunto , pois isso traz recordações e estas trazem ainda mais pranto. Não podemos comer, pois é falta de sensibilidade. Não podemos chorar demais pois isso é sinal de fraqueza e causa sentimento de pena nos presentes. Não podemos quase que respirar pois a tensão do momento dá a sensação de poder explodir a cada minuto.


A morte, ao meu ver, é tratada com muita formalidade, solenidade e, algumas vezes, misticismo exagerado.

Falta de respeito?? Alguém sabe mesmo o que o morto acharia disso?
Francamente, no meu velório... podem comer, sorrir, cantar...ou até chorar , se assim preferirem.Sintam saudades sim e até sofram um pouco por isso. Mas fiquem felizes porque, afinal de contas, eu vou pro céu (rs).
Sei bem que o GRANDE respeito a que todos se referem é dirigido aos familiares e amigos de quem se foi. E o sofrimento deles merece mesmo tamanho respeito!Mas não é preciso fazer disso um verdadeiro ritual com listas de coisas que não devem ser feitas e atitudes que jamais poderão ser tomadas nessas situações.

Acho mesmo que o x das atitudes daqueles que ficam estão baseadas nas atitudes dirigidas ao defunto quando o mesmo era vivo. Arrependimento e remorso contam muito nesses momentos. Mas infelizmente achamos que teremos muito tempo para tudo. Sempre tive uma teoria que foi reforçada essa semana por uma amiga da faculdade( Você mesma , Thaís): Devemos SEMPRE dizer o quanto um alguém é importante pra gente. Pois não sabemos quando teremos outras oportunidades. Por isso, é sempre importante estarmos atentos e nunca perdermos a chance de dizer um EU TE AMO quando for preciso.
A atitude conta mais quando a pessoa querida está viva.Pois qualquer atitude respeitosa num velório não remediará a falta de atitude que tivemos com o defunto em vida.

Outro fato que acho relevante é vida do morto.
Acho que a maneira que o defunto viveu influencia em muitas ações presentes nos velórios e enterros.
Existem pessoas que levam uma vida morta. Uma vida sem vida. E quando não há sopro de vida na vida tudo se torna obscuro, depressivo. Quando a morte enfim chega a mudança não se faz drástica. ´É notório que há morte carnal. Mas a morte real ocorreu antes. Bem antes. Ocorreu quando deixou de haver vida na vida. E essa é a imagem que as pessoas guardam quando um alguém assim falece.
No entanto,há pessoas que possuíram uma vida viva!Uma vida digna de assim ser chamada. Que viveram intensamente e que gozaram do melhor que a vida tem pra dar. São pessoas que tiveram vida com vida e mesmo após terem morrido deixam conosco aquela sensasãozinha de vida eterna.

Existe uma frase de meu querido Shakespeare que diz: "Plante seu jardim e decore sua alma ao invés de esperar que alguém lhe traga flores".

Dado tudo isto, creio que :

É possível traçar escolhas em vida que influenciarão a maneira como sua morte será vista. E sentida.
É preferível optar por agir bem independente da atitude do outro para que nos sintamos leves na morte de alguém.
É possível
perfumar situações de morte com atitudes que nos permitem ter uma consciência digna e tranqüila. Porém, mais do que tudo, é possível deixarmos um rastro perfumado na nossa morte com a essência de vida que havia em nossa vida.

Uma boa reflexão,
de uma Gabi que quer perfumar o mundo,
eu!

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